terça-feira, 16 de março de 2010

Diretora fala sobre os rumos da Extensão Rural

Há pouco mais de um ano a frente da Diretoria Técnica da Emater/RS, a geógrafa Águeda Marcéi Mezomo, especialista em Gestão Ambiental e primeira mulher a ocupar a cadeira na história da mais antiga empresa de Extensão Rural oficial do Rio Grande do Sul, fala nesta entrevista sobre os rumos da Extensão Rural, da sólida parceria com o Governo do Estado, dos desafios e das prioridades para 2010, do trabalho em equipe e de outros assuntos. Confira na entrevista abaixo.

Jornal da Emater - Quais os desafios da Extensão Rural em 2010?
Diretora Técnica – Fortalecer a agricultura familiar. Esse é o nosso desafio permanente. Estamos buscando isso através das 12 Frentes Programáticas que elegemos, a partir dos Programas Estruturantes do Governo do Estado, os quais norteiam todo o nosso universo de atividades. Não há uma prioridade, uma meta única, mas um conjunto de ações que andam juntas na busca desse fortalecimento. Vamos seguir investindo forte em tecnologias, como é o caso do Programa Estadual de Irrigação, em programas de diversificação, como o Florestal, em fruticultura, em olericultura, na implantação de agroindústrias, enfim, em projetos que se adaptem à realidade local dos municípios, que possam despertar as potencialidades da pequena propriedade e agregar valor ao que é produzido ali.

JE - Como foram construídas as prioridades para este ano?
Diretora técnica – Em conjunto. Através das reuniões de trabalho realizadas com gerentes estaduais e regionais fomos construindo essas prioridades. Primeiro fizemos um levantamento das demandas de cada município para trabalhar de acordo com as particularidades de cada região. O Estado é grande, as realidades são múltiplas. O cuidado é de não perder o foco no local, na comunidade, porque é ali que estão as famílias assistidas e é onde atua o nosso extensionista. A Emater/RS-Ascar é dividida em 10 regiões administrativas e é dessa forma que a gente trabalha, dentro desse planejamento. Este ano vamos prosseguir atuando com foco nas 12 Frentes Programáticas, que são as linhas de ação que a Instituição adotou e que reúnem todas as atividades desempenhadas pela Extensão Rural no Estado. Através delas também há uma sintonia perfeita com os Programas Estruturantes do Governo do Estado que embasam setores estratégicos para o desenvolvimento, como é o caso da agropecuária. O importante é dialogar e trabalhar sempre em equipe, porque cada dia se apresenta como um desafio e uma oportunidade de superação.

JE - Em 2009, a Emater/RS-Ascar deu o pontapé inicial nos programas de inclusão social Rio Grande Jovem e Rio Grande Mulher com a realização de eventos que reuniram milhares de pessoas por todo o Estado. Quais avanços teremos em 2010?
Diretora Técnica – Estamos muito satisfeitos com os resultados que alcançamos em 2009 e este ano vamos trabalhar ainda mais para consolidar estas iniciativas. O Programa Rio Grande Jovem veio com o objetivo de trabalharmos com foco na sucessão familiar porque sabemos que o jovem é o principal agente desse processo. Ele precisa enxergar um futuro dentro da propriedade rural e um dos caminhos é a capacitação, especialmente tecnológica para que ele se sinta pronto a dar continuidade na gestão da propriedade. Vamos ofertar cursos de profissionalização como inclusão digital, mecanização agrícola, grãos, pecuária de leite, agroindústria... Enfim, atendendo a demanda da agricultura familiar e também o interesse desse jovem. Para este ano estamos prevendo a realização de 778 eventos e esperamos pela participação de 72 mil jovens.
Já o Programa Rio Grande Mulher tem a mesma origem, a valorização de públicos que consideramos prioritários para a continuidade da agricultura familiar. E a mulher, indiscutivelmente exerce um papel fundamental. Ela é o sujeito principal na manutenção da família no meio rural, por isso estamos trabalhando forte a questão da profissionalização, da valorização da agricultora, da troca de experiências nas comunidades e do acesso à saúde preventiva. Nesse sentido, nos aliamos ao Rua da Cidadania, projeto do Comitê de Ação Solidária do Governo do Estado, que veio para somar forças, ampliando o acesso das mulheres a uma série de serviços públicos fundamentais. No nosso planejamento para este ano temos a realização de 835 atividades voltadas exclusivamente para o público feminino. E estamos prevendo a participação de 58 mil mulheres rurais.

JE – Já é possível falar em mudanças positivas com a implementação das Frentes Programáticas?
Diretora Técnica – Percebe-se já uma mudança bastante positiva. Essa foi uma idéia que surgiu a partir dos Programas Estruturantes do Governo do Estado, portanto são ações que estão amparadas nas políticas adotadas pelo Governo para todo o Estado do Rio Grande do Sul. Todas as atividades realizadas pela Extensão Rural estão inseridas nessas 12 Frentes, ou seja, foram agrupadas nesse amplo espectro. A partir das peculiaridades da agricultura nas diferentes regiões e das necessidades locais construímos esse modelo com o propósito de organizar melhor o nosso trabalho. As Frentes Programáticas dão um norte aos extensionistas que são os responsáveis por levar ao nosso produtor rural, tecnologia, informação e conhecimento.

JE – O que significa a parceria da Emater/RS-Ascar com o Governo do Estado?
Diretora Técnica – O Governo do Estado financia a atividade de Extensão Rural no Estado e hoje repassa 82% dos recursos que compõem o orçamento da Emater/RS-Ascar. É uma parceria bastante significativa e que se efetiva através de um convênio entre o Governo do Estado, instituído por meio das respectivas secretarias – Seappa, Sema e Siuma, e a Emater, onde são estabelecidas metas. É por meio desse aporte que executamos as atividades de Extensão Rural no Rio Grande do Sul. Hoje, a Emater/RS é referência em termos de qualidade em nível de Brasil, graças à valorização que o Governo Estadual está dando ao serviço de ATER.

Jornal da Emater/RS – O Programa Estadual de Irrigação (Pró-Irrigação) continua sendo uma das prioridades em 2010? Podemos afirmar que o programa já foi incorporado na cultura da Assistência Técnica e Extensão Rural?
Diretora Técnica - O Pró-Irrigação, programa coordenado pelo secretário Rogério Porto, está construindo um novo cenário para o Rio Grande. É evidente que a agricultura consegue produzir sem irrigação, mas todo mundo sabe em virtude de fatores que fogem ao nosso controle esses resultados são sempre inesperados. Não temos como evitar uma estiagem, por exemplo, mas podemos sim frear a contínua perda de produção que o Estado vem acumulando pela falta d`água. E a solução é investir em armazenagem de água e irrigação. O sistemas de irrigação são utilizados nos países do Oriente Médio com muito sucesso. Nós não temos alternativa, o futuro é esse, investir em irrigação ou continuar amargando perdas ano após ano. O que se precisa trabalhar ainda é a questão da conscientização dos agricultores, talvez vencer ainda alguma resistência, porque a tecnologia é barata e acessível. O Estado tem uma política forte nesse sentido e está subsidiando a maior parte dos custos para construção de açudes e cisternas. Já capacitamos 26 mil agricultores, elaboramos 2.100 projetos de microaçudes e implantamos 920 projetos de irrigação no Estado. Em 2010, o programa continua sendo prioridade com a elaboração e a implantação de novos projetos. Para servir de modelo aos agricultores, cada regional da Emater está implantando unidades demonstrativas de irrigação em pastagens. Portanto é isso, a irrigação está definitivamente incorporada ao trabalho da Extensão Rural no Estado.

JE - Ano após ano as ações voltadas ao bem-estar social se ampliam dentro da Instituição, ou seja, os objetivos ultrapassam as questões de produtividade e atingem não apenas o agricultor, mas todo o grupo familiar. Isso é um caminho sem volta? Por quê?
Diretora Técnica – O campo se faz com pessoas. Não dá pra pensar a agricultura apenas sob o aspecto econômico porque ela não é só isso. Podem faltar recursos financeiros, pode faltar estrutura física, pode faltar muita coisa, mas não pode faltar o fator humano. A responsabilidade social hoje é uma prioridade dentro de qualquer instituição, independente dos fins paras os quais ela exista e na Extensão Rural não é diferente. São as pessoas que se organizam e que promovem o desenvolvimento nas comunidades onde vivem. Os diferentes públicos, com os quais trabalhamos - quilombolas, pescadores, indígenas e assentados -, bem como as distintas categorias sociais - mulheres, jovens e idosos – assumem um papel relevante no contexto social. Todos tem uma parcela de contribuição a dar na busca desse desenvolvimento. E a extensão rural está, cada vez mais, junto a estas pessoas, promovendo as condições de ampliação da cidadania, de uma melhor qualidade de vida e de acesso às políticas públicas.


JE - O que se pode esperar da agricultura nos próximos anos com as mudanças climáticas que se prenunciam? Estamos preparados para enfrentar as bruscas alterações do tempo e seus efeitos devastadores sobre a agricultura?
Diretora Técnica – Não, hoje não estamos preparados, mas adiante com certeza estaremos porque isso será absolutamente necessário. As mudanças climáticas globais estão cada vez mais impactando nos processos produtivos e isso vem gerando uma incerteza muito grande e uma preocupação constante para quem vive da agricultura. Fenômenos como El Niño, La Niña, têm acarretado desordens generalizadas no campo. O agricultor planta e não sabe se vai colher amanhã. Ou seja, a agricultura é produtiva na medida em que as condições ideais se apresentam. Só que essas condições fogem ao nosso controle. Não se planta hoje como se plantava há 50 anos atrás, a agricultura, como qualquer setor avança. Cada vez mais teremos que fazer uso das tecnologias que se apresentam, cultivo protegido, irrigação. Outra coisa é adotar medidas preventivas porque estamos pagando um preço muito alto pelas agressões causadas ao ambiente. Precisamos incentivar ações que respeitem os limites do ambiente natural, preservando as fontes de de água, o curso natural de córregos, arroios e rios, a proteção natural das matas ciliares ou de topo de morros, e adotar boas práticas de uso, conservação e preservação do ambiente.


JE - E a participação da Emater/RS-Ascar nos grandes eventos, como Expodireto, Expoagro, Expointer, tende a crescer?
Diretora Técnica – A Emater/RS-Ascar é a instituição oficial de Assistência Técnica e Extenção Rural do Estado. Isso por si só explica sua inserção em eventos expressivos. Todo o segmento rural e urbano envolvido com o agronegócio se faz representar nessas ocasiões. É uma oportunidade, uma vitrine para a troca de informações e de experiências, para divulgar o trabalho da Instituição junto aos mais diferentes públicos, enfim, é o ápice de todo um trabalho de base que envolve a organização rural dos produtores, a difusão de tecnologias e a experimentação de novos materiais e métodos de fazer a agricultura e a pecuária brasileira. Crescem os eventos, cresce também a participação da Emater. Não tem como ser diferente.


(Entrevista publicada no Jornal da Emater/RS-Ascar, edição janeiro/março 2010)

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